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27 de Abril de 2024

Mãe de menina trans pede veto para lei que proíbe discussão de gênero

Com quatro anos, criança jogou fora todas as roupas de menino. Caso lei seja sancionada, família de criança teme pela integridade da filha.

Publicado por Camila Vaz
há 8 anos

Me de menina trans pede veto para lei que probe discusso de gnero A mãe de uma criança trans de 5 anos escreveu uma carta para o Prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB), pedindo que ele vete o projeto de lei que proíbe a discussão de gênero em escolas da capital. Além de considerar o PL retrógado, a família da pequena teme que a não abordagem sobre transgêneros coloque em risco a integridade da criança e comprometa o convívio social com outras crianças.

“Onde fica a orientação do MEC para trabalhar com temas transversais? O que será das outras crianças como Paty*? Como a administração municipal pretende fazer a inclusão nestes casos? O senhor já parou para pensar que crianças também sofrem homofobia e transfobia? Com discussões tão avançadas sobre o tema, por que sancionar essa lei que atrasa o desenvolvimento da sociedade? Pois não falar no assunto não vai fazer Patys, as Lauras, as Milenas e os Vitos desaparecerem da sociedade”, escreveu, completando “fica o apelo de uma mãe pela igualdade”.

Segundo o Projeto de lei nº 20/2016, de autoria da vereadora Cida Santiago (PHS), fica proibida a distribuição, utilização, exposição, apresentação, recomendação, indicação e divulgação de livros, publicações, projetos, palestras, folders, cartazes, filmes, vídeos, faixas ou qualquer tipo de material, lúdico, didático ou paradidático, físico ou digital contendo manifestação da ideologia de gênero nas escolas municipais de Teresina.

“Você não falar sobre transgênero não vai fazê-las sumir, vai apenas excluir essas pessoas. A gente não pode andar para trás, temos que evoluir. Com a aprovação de uma lei como essa, as Patys ficarão desamparadas. Por desconhecimento, você vai matar a vida escolar de um ser humano”, disse a mãe da menina, que pediu para não ter a identidade divulgada.

O projeto foi aprovado pela Câmara de Teresina e aguarda apenas a sanção do Prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB). Grupo ligados aos direitos humanos, direitos LGBTs, bem como Ministério Público pediram o veto completo ao projeto com o argumento de que coloca direitos dos cidadãos em risco.

Descoberta

A mãe de Patrícia conta que sua filha tem corpo de menino e foi criado como tal, recebendo brinquedos e roupas masculinas. Entretanto, com menos de um ano, Paty preferia as bonequinhas, copos, e os pratinhos rosa da irmã aos seus utensílios azuis. "Com um ano e meio de idade, ela sempre pedia para vestir as roupas da irmã, assim como fazia da blusa da escola um vestido", disse.

Mesmo em meio a essas manifestações, a mãe afirmou que a criança era conduzida para os padrões masculinos, mas recusava tudo que não fosse feminino.

Me de menina trans pede veto para lei que probe discusso de gnero

Próximo de completar três anos, um dia ela disse que se chamava Raquel. A gente chamava pelo nome e ela dizia que seu nome era Raquel. A gente tentava conduzir para o padrão do gênero masculino, mas sem nunca dizer que era errado. Ela tinha brinquedos de menino, mas só queria brincar com os de menina”, contou a mãe.

Ainda em meio a essa divisão entre se sentir como uma menina, mas sendo criada como um garoto, aos quatro anos, a mãe de Patrícia é surpreendida pela filha com um entulho de roupas. “Ela disse que não iria mais vestir roupas de menino. Ela fez um bolo de roupas e ficou apenas com duas peças. Argumentei que ela ficaria sem o que vestir e ela respondeu que dividiria as roupas com a irmã”.

Com discussões tão avançadas sobre o tema, por que sancionar essa lei que atrasa o desenvolvimento da sociedade?"

Mãe de Paty, sobre o PL que proíbe discussão de gênero nas escolas públicas de Teresina

O ato de jogar as roupas, bem como uma conversa com a cunhada médica, foram o estopim para a mudança. A mãe passou a pesquisar sobre o assunto, assistir documentários e então tomou consciência de que seu filho era uma criança trans.

“A gente já tinha acompanhamento psicológico desde os quatro anos. Quando percebi que era irreversível, que meu filho era uma menina, precisava que um profissional me desse sua chancela, que me ajudasse a observar, lidar, acompanhar, entender tudo isso e conduzir a situação da melhor forma possível”, contou a mãe.

Após um ano conturbado de “transformação”, Paty entrou em 2016 em uma nova escola, dessa vez com nome social e sem desconfiança daquelas que já a viram como um menino.

“Como a gente tentava impor um padrão social, ela não dormia, passava o dia inteiro chorando, passava o dia estressada. Todos achavam que o tinham direito de dizer que ela estava errada. Quando ela passou a se vestir como menina, tudo melhorou. Depois que ela mudou de escola, ela se tornou outra criança, uma menina feliz. Aceitei que minha filha fosse menina para que ela pudesse ser feliz”, contou.

Carta

Em meio a polêmica sobre o projeto de lei que proíbe a discussão de gênero nas escolas públicas, a mãe de Paty escreveu a comovente carta pedindo o veto do prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB), ao PL. O relato descreve toda a transcição do Patrício em Patrícia, relatou como teve de lidar com a família, amigos e escola.

" Foi duro entender e aceitar que minha filha é uma criança trans e foi por amor que tive que 'matar' o menino dentro de mim para que a Paty nascesse ", escreveu.

A mãe conta que a" transição "começou na escola onde entrou ainda como menino, que as crianças entenderam e assimilaram Paty, mas o mesmo não aconteceu com os adultos." Paty foi matriculada na escola ainda um menino, quando começamos a fazer a transição foi difícil para os adultos entenderem, enquanto as crianças aceitaram a novidade normalmente ".

Decidida a mudar de escola, a mãe encontrou mais um empecilho, nenhuma das seis escolas particulares procuradas se disponibilizou a acolher o caso de Paty."Nenhuma das escolas que eu visitei (e podia pagar) me acolheu. Uma chegou a me pedir um laudo psiquiátrico alegando a doença da minha filha; em outra as vagas desapareciam ou eram marcadas reuniões que nunca aconteciam. Estava claro que ninguém sabia lidar com o assunto".

Com a ajuda do Ministério Público do Piauí, a família foi procurar uma escola pública que tem obrigação de ter políticas inclusivas." Foi a melhor atitude que tomei ".

"Senhor Prefeito, a questão de gênero é uma realidade na rede pública Municipal, a Paty é a prova disso. Por isso, venho através desta pedir o veto da lei que veda a distribuição, exposição e divulgação de material didático contendo manifestações de gênero nos estabelecimentos de ensino da rede pública Municipal, pois é contraditório existir leis de inclusão de pessoas LGBT e não poder falar sobre elas", escreveu a mãe..

*Patrícia é um nome fictício para preservar a identidade da criança

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48 Comentários

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a mãe incentiva a filha a não ser menina, trata-a como menina, e ainda quer proteção legal para tanto. a inversão de valores está mesmo tomando conta do mundo. continuar lendo

Lisnei, parece que você não sabe ler, ou o seu preconceito é tão grande que o impede de entender o que está escrito. A texto deixa claro que a criança evidenciou uma sexualidade diferente da física desde muito pequena. Que a família não aceitava, e a forçava a assumir o papel de menino. E que só depois de estudar o assunto (algo que você deveria fazer também), e percebendo o sofrimento da criança ao ser forçada a assumir um sexo com o qual seu cérebro não se identificava é que com muito custo e dor, (e não pense que para esses pais não seja inicialmente uma decepção) é que buscando vencer os próprios preconceitos, visando em primeiro lugar a felicidade da criança, mudaram de conduta. continuar lendo

Realmente mano, dá pra ver que o problema vem da mãe. continuar lendo

Você está certissimo. continuar lendo

É lamentável que as pessoas, sobretudo se tratando de crianças, ainda sofram discriminações, chegando a ser tida como doentes. Eu sou a favor da discussão de gênero, tendo em destaque, também, o caso da Paty, que teve muitos abalos por conta da sua conturbada história. Acredito que as instituições políticas, religiosas e demais da sociedade civil devam aderir com o objetivo de promover o respeito às demais forma de dignidade humana, como o caso do trans. O respeito àquele que não me é igual é imprescindível. Que a ideologia de gênero seja discutida, sem que seja necessário impor padrões, mas apenas que apenas o respeito seja imposto a todos. Gostei do seu artigo, Ylena. continuar lendo

... vereadora com uma concepção bem retrógrada... não merece estar no cargo que exerce... menos mal que, fatalmente, nunca mais haverá de se reeleger... espero que tal projeto seja jogado na ... continuar lendo

Espero que tal projeto seja sancionado. continuar lendo

Não entendi.
É a criança de cinco anos, ou menos, que decide por si só?
O que vai vestir, como deve ser chamada, o que deve fazer? Isso porque fica chorando, não dorme, entra em "depressao"...
Qual é a evolução disso?
A criança pode decidir não ir para escola porque é mais feliz na rua.
Ou ainda, se decide que não é feliz comendo feijão, arroz e salada, deve ser alimentada com chocolate e refrigerante?
Afinal, quem tem que educar ou ser educado?
Só estou me perguntando. A única resposta que me vem...
realmente, os valores estão se invertendo. continuar lendo

Mário , você sabe o que é transgênero?
leia o texto todo....
dá pra ver que você não entendeu mesmo!!!! continuar lendo

É difícil julgar sem passar pela situação. Por mais que eu queira e até pense da mesma maneira que você Mario, acredito que algumas situações são quase impossíveis de lidar... O sofrimento dessa mãe é inconteste, com certeza. Acredito sim que existem pessoas com uns transtorno muito acentuado, como parece ser o caso em questão. Até porque vivo um caso assim muito próximo à mim... Contudo, ainda acho que envolver outras crianças nisso por intermédio dessa ideologia de gênero é desnecessário... Mas também não consigo dar uma solução prática para o problema. Difícil. Só Deus por nós. continuar lendo

Muito boa colocação....um tapa na cara dos que si dizem "moderninhos". continuar lendo

Concordo. Vejo, sem medo, a falta de autoridade dos pais nesses casos. 1 ano e não quer brincar c as coisas de menino, quer as da irmã e a mãe "boazinha" faz as vontades. Sou mãe de 2 filhos d sexos opostos e sei muito bem meu papel de educadora e de Mãe. Não, não pode, vc é menino! Ponto. continuar lendo

Concordo plenamente. Não dá p fechar os olhos...Leis LGBT nem teria q quer aprovado, imagina: lei da morena, da loira, da branca, da ruiva, da baixa, da alta, do homem..... quanta banalização do legislativo... Direitos Civis e Constitucionais pra isso, contra preconceito, intolerância, violência contra a pessoa.....etc. Agora, exigir que meus filhos tenham orientação sexual na escola é inaceitável....Eu crio, eu educo. continuar lendo