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25 de Abril de 2024

A "cena da manteiga" não é arte, é crime

Admissão de que houve estupro real em ‘O Último Tango em Paris’ revolta Hollywood.

Publicado por Camila Vaz
há 7 anos

A cena da manteiga no arte crime

Queria sua reação como menina, não como atriz. Não que Maria interpretasse sua humilhação e sua raiva, queria que sentisse. Os gritos… ‘Não, não!’. Depois me odiaria para sempre”. Assim narra o cineasta italiano Bernardo Bertolucci as ambições artísticas por trás do estupro real planejado por ele mesmo e por seu executor, o ator Marlon Brando, no filme O Último Tango em Paris. A confissão foi recuperada por vários veículos de imprensa norte-americanos a partir de uma entrevista do diretor na Cinemateca francesa em 2013.

O vídeo, traduzido ao espanhol pelo portal El Mundo de Alycia no Dia Internacional contra a Violência de Gênero, tem mais de um milhão de visitas no YouTube. O filme, que foi um dos mais emblemáticos da década de 1970, demorou vários anos para se esquivar da censura em vários países, como no Brasil, por causa de seu alto conteúdo sexual. Em sua sequência mais lembrada, e agora infame, Brando, que naquela época tinha 48 anos, utilizava manteiga como lubrificante para violentar sua companheira de elenco, de apenas 19.

“Queria que reagisse humilhada. Acredito que odiou Marlon e a mim porque não contamos a ela”, afirmou o diretor de filmes como 1900 e Os Sonhadores. A ideia ocorreu ao cineasta e ao ator na manhã anterior à filmagem. Na mesma entrevista, Bertollucci esclarecia que, embora se sentisse “culpado”, não se arrependia da forma como dirigiu aquela cena. “Para conseguir algo é preciso ser completamente livre”, concluía.

Apesar de os rumores sobre a veracidade dessa cena já circularem entre os cinéfilos há vários anos e as declarações do diretor não serem novas, a confissão escandalizou boa parte de Hollywood. Estrelas como Jessica Chastain e Chris Evans declararam no Twitter que jamais voltarão a ver o filme, nem considerarão Bertolucci ou Brando da mesma maneira. “Me dá nojo”, diz a atriz de A Hora Mais Escura. Como resultado dessas afirmações, iniciou-se há alguns uns dias uma campanha no Change. Org que exige que a Academia de Hollywood condene publicamente os fatos e o diretor italiano.

Schneider, que morreu em 2011 por causa de um câncer, jamais se recuperou emocionalmente depois da filmagem, vivendo longos períodos de depressão. Em uma entrevista ao jornal britânico Daily Mail em 2007, a atriz contaria em detalhes o momento de seu estupro. Declarações que passariam despercebidas pela opinião pública, que durante décadas evitou julgar os fatos. “Deveria ter chamado a meu agente ou fazer meu advogado vir ao set porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro, mas, naquela época, eu não sabia disso. Marlon me disse: ‘Maria, não se preocupe, é só um filme’, mas durante a cena, embora o que Marlon fizesse não fosse real [não houve penetração], eu chorava de verdade. Senti-me humilhada e, para ser honesta, um pouco violentada por Marlon e Bertolucci. Pelo menos foi só uma tomada”.

O "crime de estupro é qualquer conduta, com emprego de violência ou grave ameaça, que atente contra a dignidade e a liberdade sexual de alguém". O elemento mais importante para caracterizar esse crime é a ausência de consentimento da vítima. Pela lei brasileira, por exemplo, não é preciso haver penetração para que o crime se caracterize como estupro.

A atriz terminava a entrevista acrescentando que uma das coisas que mais lhe doeu foi o comportamento de Marlon Brando depois de consolar a cena, que se negou a consolá-la ou preocupar-se com seu estado. As revelações do estupro em O Último Tango em Paris coincidem no tempo com as respectivas polêmicas sobre as suspeitas de assédio sexual de dois favoritos ao Oscar deste ano: Casey Affleck e Nate Parker.

Quarenta anos depois, parece que a justiça continua a brilhar pela ausência. Até quando Hollywood continuará silenciando seus crimes?

Fonte: BRASIL EL PAIS

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/a-cena-da-manteiga-nao-e-arte-e-crime/412259988

151 Comentários

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Sem dúvida. Algumas pessoas colocam a arte acima da dignidade e acima da própria vida, transformando em doença e obsessão, como no caso do cinema snuff, mas acho que no caso do snuff, não tem arte, é só doença mesmo, coisa de psicopata e sociopata. Mas temos também, não comparando com o caso do estupro, o caso de um "artista" que deixou um cachorro amarrado para morrer de fome em uma galeria como forma de arte.
Para mim, esses casos não são arte, são coisas de gente doente, tanto de quem executa e dirige, como quem assiste mesmo tendo conhecimento da verdade.
Gente doente. continuar lendo

Faltou acrescentar no termino, no meu ponto de vista, "... Gente doente, que não merece viver."

Arte é, e somente o é, se retratar a beleza, mesmo do feio. Onde não houver beleza, não há arte, existe apenas um grotesco repudiável. continuar lendo

Antigamente Nelson Hungria e E. Magalhães Noronha, dois monstros da doutrina, entendiam inexistir o crime de estupro no do marido forçar a mulher à força, pois o ato do estupro exigia que a cópula fosse ilícita (fora do casamento). A cópula decorrente do matrimônio era, na doutrina e em parte da jurisprudência, considerada dever recíproco dos cônjuges, constituindo verdadeiro exercício regular de direito. Muito longe de justificar qualquer violência contra a mulher, (o que tenho minha posição pessoal radicalmente contra qualquer violência, entendendo que precisamos de penas mais duras contra tal crime), mas opino que a cena que foi sem penetração, e dita, anal, não se enquadraria na exigida cópula (que exige penetração vaginal) do crime de estupro da década de 70. Ainda bem que muita coisa mudou para a melhor proteção da mulher. continuar lendo

Verdade, cidadão Christian Bezerra. continuar lendo

Realmente dois monstros, não só na doutrina.
Infelizmente, ao invés de caminhar ao futuro, muitos doutrinadores ainda veneram este tipo de câncer.
Não perceberam a transição para o século XXI. continuar lendo

Avançamos na proteção à liberdade sexual, apesar de não termos avançado como é necessário.
No tocante a proteção a mulher, nem tanto.
Sequer a Lei Maria da Penha promoveu mudanças sociais de destaque.
Quanto ao ato praticado no passado certamente não interessa mais ao direito.
Tecnicamente o crime se reduz ao tipo.
Porém, a luta não é pela proteção ao tipo penal, mas à liberdade sexual.
Se naquela época a ofensa só se concretizava pelo coito, como explicar a vergonha dos envolvidos? Pudor?
As luzes lançadas contra essa obra pseudoartística certamente são de um valor atemporal.
Revimos sua classificação.
Já não estamos diante de um filme glamoroso. E sim, vergonhoso. Monstruoso.
Não é mais possível ver no desrespeito contra a vítima o antigo desempenho artístico.
Marlon Brando não pode ser aclamado pelo bom desempenho. Tão pouco ao Bertolucci.
Foi um ato brutal. Indecente. Nojento. Doentio. continuar lendo

Nelson Hungria não foi aquele que ficou com a filha do Assis Chateaubriand - que ele sequer registrou, diga-se de passagem - apenas para dar legitimidade à guarda pedida por Assis, com base na Lei Terezoca (que ele mesmo aprovou com a faca no pescoço do Getúlio) apenas porque a mãe da menina estava namorando outro? Nelson Hungria nunca mais foi o mesmo para mim, depois que eu soube disso. Bem se vê o apreço que ele tinha pelas mulheres. continuar lendo

O saldoso Hungria, dizia ainda que mesmo havendo penetração, mas se a vitima fosse um homem, não haveria estupro, mas no maximo constrangimento ilegal.por força da ausência de previsão legal continuar lendo

Camila Vez, pela atual lei, sim, foi estupro. Pela lei vigente a época, em Paris ou nos EUA, não sei. Possivelmente enquadrar-se-ia como assedio ou "sexual assault". Por que veio à tona? Certamente para encobrir algum crime desviando a atenção ou vender agenda feminista. Você não se atinou à doutrina da época. Deixo claro, que repudio qualquer atentado ao livre consentimento (o gravíssimo crime de estupro), seja o de mulheres ou de homens (casos totalmente negligenciados pela atual mídia ginocêntrica). continuar lendo

Quanta bobagem, discutir uma cena de estupro de um filme de quarenta anos atrás, em que não houve penetração anal, nem nenhum tipo de penetração e ainda questionar a encenação? Realmente, somos uma sociedade doente - o politicamente correto, este câncer com viés libertário, masoquista, assexuado e religioso vai destruir todos nós! Se bem que da população só se aproveita uns 2% para discutir seriamente uma questão como essa... continuar lendo

A palavra mais coerente até agora, pergunto onde irá parar nossa sociedade, com esse tipo de pensamento, pequeno, mesquinho, uma ignorância total, realmente da pra ficar enojado com esse falso e inaceitável moralismo idiota, realmente é um câncer mental, não levam em consideração que por detrás da atriz existia um montão de gente, pronto para opinar, contestar, permitir etc. e uma sociedade piegas, vão gastar seu inútil tempo com essa baboseira, sem contar que inusitadas situações leva a coisa até mais expressiva que a cena, é a mesma coisa doentia de taxar os filmes sobre Al Capone, com o que acontece agora em nossas cidades brasileiras, é contestar o que? quarto e quatro paredes acontece de tudo, olhem para as meninas do norte e nordeste onde fazem mais que se fez no filme, e com os auspícios dos pais, realidade do Brasil. agora discutir o sexo dos anjos, abs, parabéns Rodrigo. continuar lendo

Exatamente Rodrigo. E além de tudo, imensa hipocrisia, principalmente das mulheres que dão suas opiniões negativas à respeito. Com 90% da mulheres com quem transei (e foram muitas), fiz sexo anal... e todas gostaram muito e quiseram repetir. As 10% restantes até tentaram mas, por motivo de saúde (Hemorroidas) não conseguiram... A essas, eu respeitei.... As outras, que gostaram, eu também respeitei.... fazendo várias vezes. As mulheres que passaram pela minha vida pertenciam a todas as faixas etárias, raças, religiões e estado civil. Portanto, uma amostra bastante significativa. Conclusão... se bem feito e com carinho.... as mulheres gostam. O politicamente correto vai me crucificar? Vai... mas eu não estou nem aí. continuar lendo

Publicam um texto, em que dizem "estupro real planejado por ele mesmo e por seu executor, o ator Marlon Brando, no filme O Último Tango em Paris."
Todo mundo conhece o filme e a cena citada. Para mim ficou claro que a autora deixa a entender que naquela cena houve estupro com penetração.
Se não houve, qual a justificativa para afirmar que o estupro aconteceu? Nos filmes os atores ficam nus, simulam todo tipo de ato com conotação sexual, se tocam, tudo para dar veracidade a cena. Só me faltava agora aparecerem os politicamente corretos, com mais essa ideia.
Vamos ficar cada um no seu quadrado e cada um dono da sua própria forma geométrica. continuar lendo

Muito bom Rodrigo. A própria triz comentou - "mas durante a cena, embora o que Marlon fizesse não fosse real [não houve penetração], eu chorava de verdade." - por que esse assunto agora? Todos que acompanham o mundo artístico tem noção da libertinagem no meio divulgada por tablóides e midia televisiva o que torna a cena deste filme algo quase infantil perto do que se vê hoje. Será que já está faltando assunto para vender revista? continuar lendo

Meus sentimentos, você é muito insensível. Isso não afeta só o físico da pessoa... mas também a alma continuar lendo