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24 de Abril de 2024

PEC do Teto é aprovada em segundo turno na Câmara

Em 2º turno de votação, PEC 241 teve 359 votos favoráveis, 51 acima do necessário. Senado deve avaliar proposta até 13 de dezembro.

Publicado por Camila Vaz
há 7 anos

Cmara congela gastos sociais por duas dcadas

A Câmara dos Deputados aprovou, em segundo turno de votação, o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição quecongela os gastos públicos por 20 anos, com profundo impacto nos orçamentos da saúde, educação e assistência social. A votação dos destaques apresentados pela oposição deve ser encerrada na noite desta terça-feira 25.

Para angariar apoio à drástica proposta de arrocho fiscal do governo Temer, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM), promoveu um jantar na noite anterior para parlamentares da base governista. Após a mesura, 359 deputados votaram a favor da chamada PEC 241, 51 acima do necessário.

O convescote parece uma reedição do bem sucedido banquete oferecido por Michel Temer – e custeado com recursos públicos – a deputados aliados às vésperas da votação em primeiro turno da proposta. Na ocasião, o texto do relator Darcísio Perondi, do PMDB, foi aprovado pelo dilatado placar de 366 votos favoráveis e 111 contrários.

A PEC 241 segue, agora, para o Senado, onde também precisará passar por dois turnos de votação. Pelo calendário proposto pelo presidente da Casa Legislativa, Renan Calheiros, a emenda pode ser aprovada definitivamente em 13 de dezembro.

De acordo com a proposta, todas as despesas públicas serão corrigidas de um orçamento para o outro apenas com base na inflação do ano anterior. Não haverá aumentos reais. Desse modo, crê o governo, o pagamento dadívida pública não correrá perigo, os investimentos privados na economia voltarão e o crescimento virá a reboque.

A decisão de congelar os gastos públicos ameaça, porém, o conjunto de políticas que permitiu a ascensão social de milhões de brasileiros ao longo dos últimos anos. No estudo “O Novo Regime Fiscal e suas Implicações para a Política de Assistência Social no Brasil”, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alerta para o possível desmantelamento de programas como Bolsa Família, Proteção Social Básica (PSB), Programa de Segurança Alimentar e Benefício de Prestação Continuada, previdência para cidadãos de baixa renda que não contribuíram na vida ativa.

De acordo com a pesquisa, esses programas consumiram 1,26% do PIB em 2015 e, com a aprovação da PEC do teto, o gasto encolheria para 0,7% do PIB em 20 anos. O estudo conclui, assim, que em 2036 a assistência social contaria com “menos da metade dos recursos necessários para manter a oferta de serviços nos padrões atuais”. Em termos absolutos, a perda acumulada do setor será de 868 bilhões de reais.

Campello: "Na assistência social, será um retorno ao início dos anos 1990"

“Com a PEC 241, chegaríamos em 2036, na melhor das hipóteses, com recursos que tínhamos no inicio dos anos 1990. É um retrocesso muito grande”, avalia a economista Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social do governo Dilma Rousseff. “Quem de fato fica vulnerável é a população mais pobre, as crianças em situação de violência, as mulheres, a população de rua. Com o congelamento dos recursos, todas as áreas serão impactadas, mas áreas mais consolidadas como política pública, como a saúde e a educação, tem mais condição de resistir”.

No Brasil, o principal operador das políticas de assistência social são os municípios, que recebem co-financiamento do governo federal para executá-las, explica Campello. As prefeituras são responsáveis, por exemplo, pelos abrigos para crianças em situação de rompimento do vínculo familiar. “Esse co-financiamento vai desaparecer. Acho que os novos prefeitos não estão cientes dessa realidade com a qual vão se deparar”.

Receosos da impopularidade da medida, o relator Perondi havia feito uma alteração: no caso específico de saúde e educação, o congelamento começará só em 2018, último ano de mandato de Temer. Com isso, espera-se que a população não sinta muito os efeitos em escolas e hospitais a tempo de punir seus representantes nas urnas na eleição de 2018. A propósito: na campanha de 2014, Temer doou 100 mil reais à candidatura de Perondi.

Emenda ignora crescente demanda por serviços de saúde

O congelamento de gastos sociais ignora as transformações pelas quais o Brasil passa e que vão impactar diretamente a área da saúde. José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde do governo Lula, observa que o Brasil passa uma transição demográfica bem peculiar, marcada pelo acelerado envelhecimento da população, praticamente na metade do tempo que a França levou para concluir esse mesmo processo.

Em recente entrevista a CartaCapital, ele também aponta uma mudança no padrão das enfermidades: “A Organização Mundial da Saúde projeta que, em 2030, as principais causas de mortalidade no mundo não serão mais as doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares, e sim o câncer, que tem um custo de tratamento altíssimo”.

Enquanto a tendência da população é demandar mais da saúde pública, o Congresso propõe um congelamento de gastos por vinte anos que implica em uma perda acumulada de 654 bilhões de reais para a saúde, em um cenário de crescimento do PIB de 2% ao ano, segundo uma nota técnica divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O conteúdo do documento irritou o presidente do Ipea, Ernesto Lozardo, que usou o site e os canais de comunicação da instituição para questionar publicamente o estudo, algo inédito na história do Ipea. Lozardo disse que as análises feitas “são de inteira responsabilidade dos autores”. A situação levou a pesquisadora Fabíola Sulpino Vieira, uma das autoras, a pedir exoneração.

Sem recursos para incluir 3 milhões de crianças e adolescentes nas escolas

A emenda constitucional também acarretará em impactos profundos na educação. No Brasil, o setor é subfinanciado e precisa resolver gargalos como a universalização do atendimento, em especial na pré-escola e na creche. De acordo com o Censo Escolar, 3 milhões de brasileiros de 4 a 17 anos estão fora das salas de aula. Ademais, se o País deseja sair da rabeira dos rankings internacionais de qualidade de ensino, terá de investir na formação dos professores e na valorização da carreira docente.

"Com a manutenção dos gastos no atual nível, como propõe a PEC 241, não será possível nem sequer incluir todos os brasileiros com 4 a 17 anos na escola, muito menos com professores competentes e bem formados", analisa o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Educação.

O desafio torna-se ainda maior diante da perversão do sistema orçamentário. "No orçamento, as despesas mais difíceis de se abater são aquelas mais injustas, enquanto as mais fáceis de cortar são as justas", opina o filósofo, citando a dificuldade de se reduzir as despesas do Legislativo e do Judiciário. “É mais fácil cortar o que é mais essencial".

Presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, o deputado Chico D'Angelo (PT-RJ) alerta que a PEC 241 trará profundo impacto para setores como meio ambiente, ciência e cultura."As despesas com saúde e educação são obrigatórias. Com a cultura, são discricionárias, não obrigatórias. Nisso reside um problema da maior gravidade".

"A ideia original do governo era extinguir o Ministério da Cultura, fato que só não ocorreu em virtude da reação da sociedade. Agora, arma-se o cenário para a inviabilização da pasta e configura-se um modelo que desmantelará políticas públicas no campo da cultura", emenda D'Angelo.

A falácia do equilíbrio das contas públicas

Desde 2003, com exceção aos dois últimos anos, os governos federais gastaram menos do que arrecadaram em despesas primárias como saúde, educação e assistência social. Segundo o economista João Sicsú, professor da UFRJ e colunista de CartaCapital, o déficit orçamentário está relacionado mais ao pagamento de juros, atualmente fixados em 14%.

"Não precisa ser economista, especialista em contas públicas, para perceber que o que faz o déficit orçamentário são as despesas com o pagamento de juros da dívida pública. Se dependesse dos gastos somente nas áreas que fazem o gasto primário sempre haveria superávit orçamentário, exceto em conjunturas específicas", analisa o economista.

"A PEC desmontará o Estado brasileiro e suas políticas sociais pelo simples fato de que o que necessitamos são mais gastos per capita em diversas áreas, com destaque para saúde e educação", afirma Sicsú."Não temos, tais como diversos países europeus, um Estado de bem-estar conformado. E o desenvolvimento brasileiro é essencialmente a construção de um Estado de bem-estar social."

Fonte: Carta Capital

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Sendo fonte o Carta Capital é óbvia a inclinação para ser contra tudo, independente da possibilidade de ser bom, afinal se der certo vai "beneficiar a direita". É o sistema do "quanto pior melhor" focado em um sistema azedo de definir direita e esquerda, nós e eles, etc cujo único pragmatismo é a luta pelo poder.
Quanto a economista Tereza Campello, esta deve ter influenciado bastante a política econômica que produziu cerca de 20 milhões de desempregados, cerca de 12 milhões foram demitidos e os outros que não conseguem o primeiro emprego.
No passado se recusaram a assinar a Constituição Federal de 1988 pois não havia previsão para o sistema ser socialista.
Foram contra o plano real que tirou o país da hiper inflação, aliás a política econômica de Dilma e caterva asseverava que inflação seria benéfica a economia. O imposto inflacionário atinge sempre de maneira pior os mais pobres, quem tem alguma reserva consegue mitigar os efeitos da inflação, quem ganha estritamente o que precisa para viver não tem a mínima chance de defesa. continuar lendo

Quem ganha o mínimo suficiente para viver certamente não tem dinheiro para bancar assistência médica. Sem atendimento do SUS é cova na certa. Será mesmo que não dá pra cortar de outro lugar? Choque de gestão é pauta da direita. Identifico-me mais com as propostas assim chamadas de "da esquerda". Mas acho super negociável o corte de cargos e auditorias, que no meu entender têm a ver com pautas da direita. Por que não vemos propostas sérias desse governo nesse sentido? Meu pitaco: pq é uma direita herdeira de coronéis e chefes de capitanias hereditárias. E também do "seu dotô juiz". Com essa direita não tem negociação, pq essa direita era pra estar morando nos livros de história. Mas por aberrações tão próprias de nosso país... ei-los viventes coabitando nosso tempo. Eles têm premissas que não são mais negociáveis pq pautadas num anacronismo moral e social. A imagem dos jantares de luxo como local privilegiado para "discutir" corte na saúde e educação NUM PAÍS QUE IMPÕE A MILHÕES DE CIDADÃOS A CONDIÇÃO DE BANGUELAS E ANALFABETOS seria a perfeita alegoria desse governo, se não fosse tristemente, para além de alegoria, um retrato realista e fiel do que de fato aconteceu e continua a acontecer. O ambiente de costura de acordos não são as casas legislativas e comissões legítimas, mas jantares de luxo pagos com dinheiro público como se dissessem "viram? somos a realeza, e naturalmente precisamos sustentar nosso luxo arrochando a plebe". Como relativizar esse tipo de proposta, sendo negociada com esse tipo de dinâmica, com o tipo de classe política que cada dia conhecemos melhor, num país como o Brasil? Como ver o lado positivo desse tipo de proposta no momento político e social que vivemos? Me ensina, Norberto, pq eu não tô sabendo. continuar lendo

Porque não acabar com a pensão vitalícia aos ex-presidentes desde Sarney até o atual que além das mordomias como 8 funcionários, 4 carros e salários de 70 mil reais mensais?
Acabar com os juízes e promotores que metade deles recebem acima do teto que é de 33 mil reais (um procurador do Sergipe recebeu 150 mil no mês de agosto)?
Porque não tributam as grandes fortunas como tributam a classe trabalhadora?
Porque não fazerem um pré concurso para a população ter apenas pessoas tecnicamente competentes para votar em todas as eleições (com todo o rigor dos concursos inclusive o de antecedentes criminais)?

apenas algumas receitas que me veio a mente agora e que seria óbvio. continuar lendo

Luana Botelho, conforme escrito acima, definir direita e esquerda já é uma forma de afastar o pragmatismo e partir para o dogmatismo; este último é o coveiro do dialogo.
Só para exemplo, não há previsão legal de corte na saúde e na educação neste projeto de emenda constitucional. Trata apenas de responsabilidade orçamentária. Funciona na casa de pessoas com juízo e funciona para países também.
Para detalhes mais técnicos sugiro o brilhante e didático comentário de Ricardo Fausto Becker nesta mesma publicação. continuar lendo

Acontece , que no Brasil nunca existiu direita nem esquerda . São todos um bando de ladrões , que se reunem com seus ASSECLAS , COMPARSAS E APANIGUADOS , ao anoitecer , para roubar. continuar lendo

É preciso colocar certos pontos acerca da PEC 241 que são comentados na postagem. Em primeiro lugar é preciso não tratar a PEC como uma panaceia para a solução de todos os problemas econômicos. Ela, na verdade, é só o começo de uma longa jornada para se alcançar o equilíbrio fiscal, destruído no governo passado. Muita coisa ainda há por fazer, como a reforma da previdência e outras no papel.

Quando se fala, porém, que “o déficit orçamentário está relacionado mais ao pagamento de juros, atualmente fixados em 14%”, saibam vocês que esse déficit é financiado, em boa parte, por pequenos investidores, como, por exemplo, quem aplica em títulos do Tesouro. Se essa dívida se tornar, como já está se tornando, incontrolável, sabem o que acontecerá? Ou o governo aumenta impostos para amortizá-la ou passa a emitir moeda sem lastro na capacidade produtiva do país gerando inflação. Será que se quer pagar mais impostos do que já se paga ou voltar à era Sarney, quando a inflação alcançou o espantosa taxa de 80% ao mês? É que em economia não há milagres. Se, todavia, alguém tiver alguma receita milagrosa, estou disposto a aprender.

Colegas, é muito bonito falar em prioridade à saúde e à educação, mas, convenhamos, historicamente no Brasil, particularmente nos últimos quarenta anos, saúde e educação tem se mostrado uma porcaria.

Pode ser que, se o país conseguir “entrar os trilhos”, sem roubalheira na política e com mais responsabilidade na elaboração das propostas orçamentárias, possamos reduzir gradualmente a dívida interna e, quiçá, saúde e educação possam se tornar, efetivamente, serviços de qualidade oferecidos pelo poder público. continuar lendo

E o salário desses malditos, também serão congelados? continuar lendo

Claro que não. Imagine. O salário dos malditos continuará em eterna expansão , muito acima da inflação. Aliás , a necessidade de congelamento do salário dos benditos ,´é diretamente proporcional a necessidade de expansão do salário dos malditos. Uma coisa decorre da outra. Aqui no Brasil , quando se fala em crise , todo mundo já sabe quem é que vai pagar a conta. continuar lendo

E após o banquete, alguém tinha dúvidas de que seria aprovado? Eu não tinha! Várias coisas importantes (como a lei de greve do servidor, dentre outras) esperam anos, mas nesse caso saiu em semanas. Aqui eu não penso na inclinação da carta capital, penso no fato de que o congelamento de gastos desse porte só vai fazer crescer ainda mais a desigualdade social e desamparar cada vez mais os pobres e mais necessitados. Além disso, como já afirmei outrora, há outros meios válidos de conter a crise: corte de cargos comissionados, fins das regalias dos políticos, diminuição dos salários dos políticos, tributação sobre grandes fortunas. Então, não acredito que é ser de esquerda, mas o fato é que a PEC não visa apenas conter custos, mas conter também avanços sociais. continuar lendo

Exatamente. E fico chocada com o descolamento do debate econômico das gravíssimas consequências que tais cortes terão sobre os mais desassistidos. As pessoas vão falando de cortes, medidas, taxas e percentuais e em nenhum momento se lembram do custo humano envolvido em tudo isso. Tanto por trabalhar na área social quanto por ter pessoas bem pobres dentro do meu círculo afetivo, me dá calafrios essa PEC. É duro vivermos num país com lideranças políticas e classe média/elite tão doentiamente indiferentese às condições difíceis de seus empregados e tão penosas como as dos que estão na miséria, na velhice desassistida, na infância vulnerável...A discussão é de uma esquizofrenia assustadora... continuar lendo

Os pobres , os necessitados , os avanços sociais e as profundas desigualdades sociais vistos no Brasil, jamais foram um problema ou uma preocupação para os governos e os políticos brasileiros. Muito pelo contrário , eles acham que os culpados pela intensa crise econômica que assola o pais são os aposentados do INSS. Dai a preocupação com a reforma da previdência. Para os déspotas do poder com sua visão míope , após a reforma da previdência os velhinhos morrerão de inanição e doenças , e deixarão de amolar , e , a crise será contida sem a necessidade de nenhuma outra reforma. Ainda bem que Hitler não ganhou a guerra e não dominou o mundo. Caso contrário , ao invés de morrer aos poucos de fome e de desassistência , os velhinhos da previdência iriam todos para os crematórios. NELSON VELO FILHO - OAB/SP 120.430 - nelsonvelo@uol.com.br continuar lendo