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26 de Abril de 2024

Juiz autoriza aborto de feto com anomalia

Uma mulher de Goiânia interrompeu a gravidez de 25 semanas -- cerca de seis meses -- após obter na Justiça o direito de abortar.

Publicado por Camila Vaz
há 8 anos

Uma mulher de Goiânia interrompeu a gravidez de 25 semanas - cerca de seis meses - após obter na Justiça o direito de abortar. Nos exames pré-natais, o bebê havia sido diagnosticado com Síndrome de Edwards, doença genética que causa uma série de más-formações e cuja expectativa mediana de vida varia entre 2 e 14 dias, de acordo com estudo publicado na Revista Paulista de Pediatria.

Depois de constatar que seu bebê teria a enfermidade (a segunda trissomia autossômica mais comum no mundo, acometendo um a cada 7,5 mil nascidos vivos), a gestante recorreu ao Judiciário, sustentando que o feto não sobreviveria após o parto e que ela própria, se levasse a gravidez adiante, estaria sujeita a desenvolver doenças psicológicas. O juiz Jesseir Coelho de Alcântara, da 1ª Vara Criminal de Goiânia, julgou o pedido procedente - contrariando o posicionamento do Ministério Público, que se manifestou pela extinção do processo.

De acordo com o Código Penal brasileiro, em vigor desde 1940, o procedimento é considerado legal em apenas duas situações: quando há risco de vida para a mãe ou quando a gravidez é consequência de estupro. Em 2012, em uma decisão histórica, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que também não é crime o aborto de fetos anencéfalos (sem cérebro), que morrem logo após o parto em 99% dos casos.

"Pedimos que o caso fosse avaliado de forma análoga à decisão do Supremo sobre a anencefalia", disse um dos advogados da mulher, Antônio Henriques Leite Filho. Deu certo. Em sua sentença, o juiz afirmou que a morte do bebê era "certa" e que não haveria procedimento médico capaz de corrigir as deficiências desenvolvidas pelo feto. "A mulher gestante carregará em sua barriga, por nove meses, um ser sem vida, causando-lhe sofrimentos físicos e psicológicos. Para que impingir tal sofrimento sem necessidade?", escreveu. O advogado informou que sua cliente não daria entrevista.

Das crianças nascidas vivas com a doença, causada pela trissomia do cromossomo 18, metade morre antes da primeira semana de vida e menos de 10% chegam aos 5 anos. "Se ele ainda for portador de cardiopatias ou exigir muitas cirurgias, essa expectativa é ainda menor", afirma o pediatra Paulo Henrique Manso, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.

Segundo ele, a Síndrome de Edwards, apesar de ter altas taxas de mortalidade - por causa de complicações cardíacas, ósseas, intelectuais e cognitivas -, não é incompatível com a vida.

Na sentença, o juiz Jesseir de Alcântara salientou que o direito à vida não é absoluto, permitindo exceções. "O feto não tem possibilidade de sobrevivência fora do útero materno. Como consequência, não precisa de preservação", determinou. Outras decisões semelhantes, autorizando a interrupção da gestação de um bebê com Edwards, já foram expedidas no Rio e em São Paulo.

Alcântara escreveu ainda que se não permitisse o procedimento, estaria reforçando a ideia de que a interrupção da gravidez de forma clandestina seria "o único caminho viável". Pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) mostra que uma em cada cinco mulheres brasileiras se submeteu a pelo menos um aborto até os 40 anos. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)

Fonte: uol

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/juiz-autoriza-aborto-de-feto-com-anomalia/294474044

32 Comentários

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Acredito que, in casu, a decisão foi acertada, mas é preciso tomar muito cuidado com analogias em situações como essa, uma vez que isso pode originar um verdadeiro processo de eugenia acobertado pelo Judiciário. Frases como "o direito à vida não é absoluto" podem ser muito perigosas. continuar lendo

Pois é, agora a Justiça é quem vai definir quem tem o direito à vida ou pode ir para o paredão. continuar lendo

"Em termos práticos no Brasil ocorrem cerca de 800 mil abortos por ano, e acredita-se que esse número é subestimado, alguns estudos sugerem que esse número pode passar de 1,5 milhão!"
-> Vou dar de barato que este número seja verdadeiro (dica: não é). Também temos 60.000 homicídios por ano e não vemos nenhum tipo de movimento em favor da legalização do homicídio. continuar lendo

Só uma pessoa deveria ter o direito de autorizar a interrupção de uma gravidez indesejada. A própria grávida. continuar lendo

Ou seja, uma pessoa tem o direito de matar outra. Perfeito. continuar lendo

Exatamente!
O que o nosso colega acima disse: '' Ou seja, uma pessoa tem o direito de matar outra. Perfeito. '' é apenas um simbolismo que existe em relação ao direito a vida e uma dominância historicamente sedimentada sobre o corpo da mulher e o que ela pode fazer com ele.
É muito bonitinho falar e parecer o moral e politicamente correto, discursos como: '' Uma pessoa pode matar a outra? '' '' Você tem um filho? ele já é grandinho? qual a diferença de matar o maiorzinho e o que está na barriga?'' ''Eu sou a favor da vida'' Esses discursos são legais para se falar em rodas de amigos e família para parecer uma pessoa ''boa'' e mostrar que a educação que recebeu foi de boa qualidade.
No entanto, esse tipo de discurso, nada mais serve do que para atrapalhar as politicas publicas de saúde e perpetuar esse pensamento arcaico e obsoleto que não condiz em nada com as reais situações em que vivemos e não passa de um senso comum. E sabe no que o senso comum ajuda? Em nada!
Em termos práticos no Brasil ocorrem cerca de 800 mil abortos por ano, e acredita-se que esse número é subestimado, alguns estudos sugerem que esse número pode passar de 1,5 milhão! Com uma média de 200 mil mortes por ano. E aí, onde estão os que são a favor da vida nessa hora? Essas 200 mil mulheres podem morrer?
Acreditam mesmo que existe alguma possibilidade de os abortos serem extintos? Visto que, a população que mais realiza aborto são mulheres de 25 a 32 anos e de classe média! Ou seja, não está relacionada a educação e sim, a infinitas variáveis ...
Enfim, o aborto é um tema complexo e acredito que mesmo que seja legalizado (o que seria um grande avanço, em termos jurídicos e de saúde), nunca será algo banal. Por todo o simbolismo que existe em torno do nascimento. Muitas pessoas acreditam que em uma situação de legalização do aborto, as mulheres vão falar em seus horários de almoço '' Hoje não vou almoçar com vocês, porque vou ali rapidinho fazer um aborto'', isso nunca vai existir. A mudança ocorrerá em casos como o da Jandira, que morreu (e seu feto também) em uma clinica clandestina sem nenhuma estrutura e apoio hospitalar.
E quantas Jandiras, que não passam no jornal, existem por aí! continuar lendo

Marcos, vou dar de barato que este número seja verdadeiro (dica: não é). Também temos 60.000 homicídios por ano e não vemos nenhum tipo de movimento em favor da legalização do homicídio. continuar lendo

Um ser que está em absoluta dependência de outro não deve ser absolutamente protegido em detrimento da saúde física ou mental de quem o mantém. Acertada a decisão, a meu ver. Ninguém, muito menos o Estado, que é, ao mesmo tempo, todos e pessoa nenhuma, pode achar que tem mais amor por um filho do que a mãe que carrega o filho dentro de si. Comparar aborto necessário a homicídio é ver o mundo com antolhos. continuar lendo

Você pode matar alguém que está morto? Nas primeiras semanas de gestação não existe cérebro. Ou seja mais morte cerebral impossível. Se interromper uma gravidez em um embrião sem cérebro for matar, nunca mais vou colher um alface pois estou tirando uma vida. continuar lendo

Gostaria de saber quem é que diz se ser humano tem o direito de viver uma hora, um dia, 10 anos, 70 ou 90? Só a mãe tem direito de matar o filho? Ou, a justiça tambem tem esse direito? É pena de morte para quem ainda não pode se defender? Ou é seleção genetica nazista? Só estou pensando. O Pai tambem tem o direito de opinar e decidir já que o filho (metade) tambem é dele? continuar lendo

Pela sentença do juiz, parece que a Justiça agora pode decidir quem vive ou quem morre. continuar lendo

A parte de qualquer questão moral, esta moça correu risco de vida, já que abortos devem ser feitos até a 12ª semana! continuar lendo

Baseado em que você faz essa afirmação? continuar lendo